sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

Angústias...

Porque para algumas meninas mentir é mais fácil...

Porque para algumas delas a verdade incomoda....
Sinceramente não sei o que passa na cabeça de algumas delas....
A verdade é que sinto que para muitas a mentira é a única verdade.
Sim a única!
Não a verdade de todos...
Mas a verdade delas...
Isso não é viver atrás de uma máscara?!
Sinceramente não sei e nem sei se quero saber...
O que sei é que achei que te conhecia...
Achei que sabia quais tipos de filmes você gostava...
Qual era sua música predileta...
Qual era seu prato favorito....
...
Será que você mentiu? Será que eu não te conhecia? Ou será que você mudou? Ou fui eu que mudei?
"(...) Certa noite, a Maga cravou-lhe os dentes, mordendo-lhe o ombro até sair sangue, pelo simples fato de ele já estar um pouco cansado, um pouco perdido, o que resultou num confuso pacto sem palavras. Para Oliveira era como se a Maga espera-se a morte dele, algo nela que não era o seu eu desperto, uma forma obscura reclamando uma destruição, a lenta facada de baixo para cima que rasga as estrelas da noite e devolve o espaço às perguntas e aos terrores. Essa vez, e só essa vez, excitado como um matador mítico para quem matar é devolver o touro ao mar e o mar ao céu, maltratou a maga numa longa noite da qual pouco falaram mais tarde, fez dela Pasífase, dobrou-a e usou-a como a uma adolescentem conheceu-a exigiu-lhe as servidões da mais triste puta, magnificou-a em contelação, teve-a entre os braços cheirando a sangue, fez com que bebesse  o sêmen que corre pela boca como um desafio ao Logos, chupou-lhe a sombra do ventro e do sexo, erguendo-a depois até o seu rosto, para untá-la de si mesma, numa última operação de conhecimento que só o homem pode dar à mulher, exasperou-a com pele e pêlo e baba, lançou-a contra um travesseiro e um lençol e a sentiu chorar de felicidade contra o seu rosto que um novo cigarro devolvia à noite do quarto e do hotel.
Depois, Oliveira ficou preocupado que ela se considerasse transbordada, que aqueles jogos procurassem sempre ser uma espécie de sacrifício. Receava, particularmente, a forma mais sutil da gratidão, que se torna carinho canino; não queria que a liberdade, a única roupa que caía bem na Maga, se perdesse numa feminilidade diligente. Tranquilizou-se, pois o regresso da Maga ao plano do cafezinho e da visita ao bidê foi assinalado por uma recaida na pior das confusões. Absolutamente maltratada durante aquela noite, aberta a uma porosidade de espaço que late e se expande, suas primeiras palavras, já do lado terreno, tinham de açoitá-la como chicotes, e sua volta à beira da cama, imagem de uma consternação progressiva que procura neutralizar-se com sorrisos e uma vaga esperança, deixou Oliveira bastante satisfeito.(...)"
Trecho do livro "O Jogo da Amarelinha" de Julio Cortázar